quinta-feira, janeiro 25, 2007

O eterno recomeço

A fonte voltara a secar. O cair das folhas era trespassado pela vento frio do primeiro mês do ano de 1985. O quotidiano decorria como sempre decorreu, mas naquela noite as estrelas pareciam mais brilhantes, a luz era cada vez maior. As ruas estavam estranhamente iluminadas, os muros coloridos, as fachadas das casas enfeitadas. Os dias passavam em ambiente de festa, o sol corria atrás da lua, o tempo aquecia e os dias ficavam cada vez mais compridos. As flores desabrochavam, a alegria encontrava-se nos rostos de todas as pessoas. As marcas do Verão voltaram a aparecer até que as folhas cairam enfim. Os dias passavam, a lua sorria e acompanhava o frio. A fonte voltara a secar.

sábado, outubro 01, 2005

O Caralho

Não há nada no mundo onde o caralho não entre. Sou uma pessoa velha como o caralho e trabalho num sítio longe como o caralho. Começo o meu trabalho cedo como o caralho, mas nunca antes de tomar um café que sabe mal como o caralho. Falo todos os dias com pessoas e não entendo um caralho do que elas dizem, limitando-me a abanar a cabeça. Trabalho num computador lento como o caralho e só paro quando chega a hora do almoço. Como uma dose pequena como o caralho e volto para o trabalho sentando-me de novo naquela cadeira incómoda como o caralho.Chego ao final do dia e já só me apetece mandar os meus colegas todos para o caralho.

Este foi mais um dos dias tristes como o caralho. Quanto a vós não sei, mas chego ao fim do dia cansado como o caralho.

Afinal de contas o que é o caralho?

Segundo a academia de letras portuguesa, o Caralho é a denominação dada ao pequeno cesto que se encontrava no alto dos mastros, de onde os vigias procuravam ver a terra. Numa área de muita instabilidade a pessoa que lá estivesse sujeitava-se a sentir todos os movimentos dos barcos com maior intensidade.

Todos os marinheiros que tinham comportamentos desviantes ao bom funcionamento da vida em comunidade dentro do barco eram enviados para o "castigo". Subiriam até ao Caralho e lá ficavam por muitas horas ou até dias e quando desciam ficavam tão enjoados que se mantinham tranquilos por um bom par de dias.

Daí vem a célebre expressão “VAI PARA O CARALHO"

terça-feira, janeiro 11, 2005

Foi uma noite fixe

A noite caia outra vez, cumprindo a promessa do dia anterior. A desordem da ordem continuava, tal como tinha começado algures no ano de 1900 e qualquer coisa. Era mais uma das 52 reuniões semanais do ano de 1900 e qualquer coisa que provocava em todos os presentes um sentimento de libertação, onde a noite era mais do que uma sábia conselheira que os levava para os braços daquele grande mestre chamado Morfeu, aquele que chegava sempre depois da 18 bejeca, patrocionador do afamado grande prémio da estrada até aos respectivos vales dos lençois. Naquela noite, presos por divagações várias de um dos membros que acabara de cumprir a sua 15 rodada, os restantes membros, que suportavam o peso cada vez maior dos respectivos instrumentos, entoavam cânticos enquanto observavam estasiados aqueles seres errantes que apareciam sempre, vindos do compartimento do lado e dançavam até não haver mais nenhumas mãos a cansar as cordas, mais nenhum sopro a produzir um som, mais nenhuma garganta a entoar um cântico. Aquela noite, era uma noite especial. Estavam todos presentes, os locais de debate todos abertos, locais esses onde se dissecava a problemática da conjunção do tractor amarelo com a loira do Rés-do-chão Centro e ninguém se tinha ainda cansado de partilhar aquela amena cavaqueira com todos os outros que não os queriam ouvir mais. Assim se passou mais uma noite para mais tarde recordar.

Patrocínio: Azeite galo, a cantar desde 1914

quinta-feira, novembro 25, 2004

Palavra de algodão

Pequena palavra de algodão,
Que hoje te cansaste em mim.
Pequei porque me fizeste ladrão,
De crime sem começo nem fim.

Gigante de gente pequena,
Destino fingido de um ser.
Por ti cumpri a minha pena,
Fiquei louco até envelhecer.

Triste, inconfundível desgosto,
De sorte certa e penetrante.
Se um dia o amor é um posto,
No outro é suave uivo gritante.

Quando um dia de ti me soltar,
Será o mais frio e longo Verão.
Pronto para de ti me cansar,
Pequena palavra de algodão.

terça-feira, novembro 23, 2004

Pintada de amarelo

Na manhã seguinte de um sonho qualquer,
O sol que a batalha fez desaparecer.
Sobe e rodeia a montanha maior,
Deixando um rastro de luz incolor.

A lua não aquece mas insiste em falar,
Que a sua luz escura parece embalar.
Destino riscado por homem nenhum,
Soneto ensonado embebido em rum.

Sopro distante de vento desconhecido,
Empurra o barco nas ondas perdido.
Aviva a fogueira que alguém apagou,
Castelo de folhas que desmoronou.

Mas esse vento não poderá apagar,
A história de amor que o velho contar.
Escrita com estrelas à luz do luar,
Da que não aquece mas teima em queimar.

Momento perdido (para encontrar mais tarde)

Sou poema instrumental,
De artista ainda por inventar.
Canso as cordas da guitarra,
Envolvido numa noite de luar.

Minto com todas as letras,
Uma verdade indiscutível.
Uma agulha num palheiro,
Nunca foi nada impossível.

Numas noites procuro-te,
Num silencioso prazer.
Escrevo teu nome no sol,
De manhã ao entardecer.

Lua, reflexo amante,
Paixão, loucura do ser.
Amor luxuoso e distante,
De poeta a envelhecer.

Tristes são as noites,
Longos são os dias.
A mim tudo me falta,
Prosas, versos, poesias.

segunda-feira, novembro 15, 2004

Para sempre Queen

Não há tempo para nós
Não há lugar para nós
Que coisa é essa que constrói os sonhos
E mesmo assim afasta-se de nós

Não há alternativa para nós
É tudo decidido para nós
Este mundo tem apenas um doce momento
Longe do nosso alcance

Mas toca as minhas lágrimas
Com os teus lábios
Toca o meu mundo
Com a ponta dos dedos

E poderemo-nos ter para sempre
E poderemo-nos amar para sempre
Para sempre é o nosso dia actual

De qualquer maneira
Quem espera para sempre?

sexta-feira, novembro 12, 2004

Estado de loucura crónico

Tuas palavras fizeram-me parar o tempo que teimava em passar como se nada de importante ocorresse. Nada é sinal que não existem palavras e todas as palavras não são nada? Então porque o tempo não parou? Se nada faz o tempo parar, porque é que o tempo não para quando meus lábios encontram os teus. Porque quando isso acontece, eu sei que não há palavras que a exprimam, e como não há palavras, estamos no contrário do nada e então o tempo devia parar. Se a negação de uma negação significa que não existe negação e como nada faz o tempo parar, então uma simples troca de olhar, um beijo profundo, ou uma palavra quente deveriam fazer parar o tempo, pois significam algo contrário do nada que faz o tempo parar. Tenho a triste sensação que nada me irá tornar algo que sempre quis ser diferente do nada que hoje tenho a certeza que amanhã não serei. Quando uma coisa importante acontecer, farei com que o tempo pare e nada me faça recordar de nada que faz parar o tempo, pois disso é feito a vida, momentos de nada diferentes do tempo que fazem perder a lembraça de nada.

Importante: Não tomar este como referência

Pintura de um som

Nasci de uma lágrima, caí em soluços. Fiz de um rio meu lar, fui-me deixando ficar. Perdi-me a contar carneiros esperando voltar a visualizar tua face para poder voltar para teu olho, o lugar de onde nunca devia ter saído. Mas se isto é uma prova, se me querem ver longe de ti, terei de ganhar asas e voar. Pedirei ao sol que me aqueça e me faça subir, até te perder de vista. Esperarei pacientemente por outras lágrimas que sei que vou encontrar pelo caminho até já não cabermos no nosso futuro lar feito de nuvens e cairmos. Quando esse momento chegar, quando enfim do ar em chuva cair, procurar-te-ei até me perder na tua pele. Só assim me posso redimir da culpa de ser fruto de um julgamento de um crime que cometi.